quinta-feira, 5 de março de 2009

BEM VINDO A MATRIX DO MUNDO REAL

BEM VINDO A MATRIX DO MUNDO REAL

O filme Matrix, criado pelos irmãos Wachowski em 1999, conta a história de um jovem chamado Neo. Como boa parte dos nossos jovens, Neo é viciado em computador. Um belo dia durante um sonho, ele é surpreendido por um encontro inusitado. Nesse encontro, o jovem conhece o personagem Morfeu. Na mitologia grega, Morfeu era um espírito, filho da noite e do sono. Ao pousar sobre um ser humano, tocava-o com uma papoula vermelha e lhe fazia adormecer e sonhar, também poderia aparecer nos sonhos através de uma forma humana. Foi exatamente dessa maneira, através de um sonho, que Morfeu, encontrou Neo e afirmou que a realidade que as pessoas vivem, inclusive Neo, é uma farsa e que ele, Neo, é o escolhido para libertar a humanidade dessa farsa.
Morfeu dá então a Neo a oportunidade de se livrar da venda que o impede de ver o que realmente se passa e viver o mundo real fora da “Matrix”. Para isso, Neo teria que optar entre tomar a pílula vermelha - que lhe mostraria a realidade - ou, tomar a pílula azul - que manteria Neo na sua vida normal dentro da “Matrix” e lhe faria esquecer aquele sonho.
A filósofa Marilena Chauí, em seu livro Convite à Filosofia nos fala um pouco sobre a Matrix. Vejamos:
“Essa palavra é latina. Deriva de mater, que quer dizer ‘mãe’. Em latim, matrix é o órgão das fêmeas dos mamíferos onde o embrião e o feto se desenvolvem; é o útero. Na linguagem técnica, a matrix é o molde para a fundição de um peça; o circuito de codificadores e decodificadores das cores primarias (para se produzir imagens) e dos sons (nos discos, fitas e filmes), e, na informática, é a rede de guias de entradas e saídas de elementos lógicos determinadas intersecções.”

A Matrix do filme cria uma realidade imaginária em que as pessoas vestem, comem, bebem, se divertem e até pensam situações falsas, manipuladas. Ela controla a inteligência humana para dominar o mundo. A realidade criada pela Matrix torna os homens escravos, usando sua imaginação para fazer eles crerem no que as coisas aparentam ser, e não no que elas realmente são, ou seja, os torna alienados .
Neo, o personagem principal do filme, tem a missão de destruir a Matrix e, conseqüentemente libertar a humanidade de uma realidade que não existe, da alienação.
Mas, qual é a relação entre estar diante de jovens aparentemente desinteressados, irrequietos e barulhentos, em uma sala de aula ensinando História e o filme Matrix? Bem, para Neo, vencer a Matrix é assegurar aos seres humanos a possibilidade de perceber e compreender o mundo.
Teoricamente, esta é também a missão do professor(a) de História. Temos a responsabilidade de apresentar a História como um processo onde os homens são agentes das transformações que ocorrem ao longo do tempo. Como Neo, temos a missão de derrotar a Matrix do mundo real dando aos alunos a chance que possibilite perceber e compreender o mundo.
Em nossa sociedade, assim como no filme Matrix, vive-se uma realidade manipulada. Muitas de nossas vontades e necessidades são manipuladas. Quem nunca se deparou com uma terrível vontade de comer chocolate no meio da madrugada só porque lembrou do garoto do comercial que dizia: “Compre Baton, compre Baton” ou ainda “Beba Coca-Cola”, ou daquele outro jingle “Pipoca e Guaraná”.
Informações manipuladas não ficam restritas aos comerciais de TV. O historiador Rubim Santos Leão de Aquino mostra no livro Brasil: uma história popular como nossa realidade é manipulada:
“O jornalista Aloysio Biondi exemplificou muito bem este tipo de comportamento da imprensa. Ele nos contou em pesquisa feita após o Plano Real mostrando que o endividamento da classe média saltou de 20% para 40%.. Isto significa que grande parte dos salários estava comprometida com os juros, cheque especial, prestações, cartões de crédito etc. O que isto significa? Que havendo menos dinheiro, compra-se menos. Isso acarreta recessão e desemprego. Sabem como a imprensa noticiou esse fato? Assim: Dobram o acesso do consumidor ao crédito. Aloysio Biondi chamava essa prática de manchete às avessas. Ele contou também que, em 1997, se vendiam 180 mil carros por mês Nos últimos meses de 1999, vendiam-se apenas 80 mil. E sabem como foi dada a notícia? Dessa forma: No próximo mês o setor automobilístico deve cresce de 10 a 20 por cento.”

Essas manipulações também ultrapassam os muros das escolas e chegam às aulas de História. Quem nunca leu nos livros de História as proezas do “líder” da Inconfidência Mineira Joaquim José da Silva Xavier – O Tiradentes, ou os atos “heróicos” dos Bandeirantes ou ainda, a bravura de D. Pedro I ao dar o grito do Ipiranga, a bondade da Princesa Isabel que libertou os escravos?
Essa situação torna ainda mais complexo o dia-a-dia dos professores de História que também são obrigados a lidar com outras situações como má remuneração, falta de preparo, violência, etc.
Diante desses fatos nos perguntamos: Será que nós professores temos condições de sermos destemidos “heróis” como o do filme Matrix ou simplesmente preferimos (ou não temos chances) ser meros reprodutores de falsas informações. Qual a realidade das escolas? E as instituições de ensino também permitem uma fuga da Matrix da falsa realidade? Qual a realidade de nosso aluno? Somos capazes de entendê-la? Até que ponto o ensino e o aprendizado de História é prejudicado pelas informações deturpadas?
O texto desse trabalho não conduz a respostas definitivas sobre a relação de ensino e aprendizado de História. Mas, pretende contribuir para a necessária reflexão dos professores e levá-los, se possível, a buscar mudanças que sejam pertinentes e que possibilitem a um melhor aprendizado da disciplina História, permitindo aos alunos fugirem da decoreba e das visões heróicas e factuais.

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